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domingo, 27 de outubro de 2013

"O que poderia valer mais do que a manta para aquela família? Quadros de pintores famosos? Jóias da rainha? Palácios? Uma manta feita de centenas de retalhos de roupas velhas aquecia os pés das crianças e as memórias da avó, que a cada quadrado apontado por seus netos resgatava de suas lembranças uma história. Histórias fantasiosas como a do vestido com um bolso que abrigava um gnomo comedor de biscoitos; histórias de traquinagem como a do calção transformado em farrapos no dia em que o menino, que gostava de andar de bicicleta de olhos fechados, quebrou o braço; histórias de saudades, como o avental que carregou uma carta por mais de um mês... Muitas histórias formavam aquela manda. Os protagonistas eram pessoas da família, um tio, uma tia, o avô, a bisavó, ela mesma, os antigos donos das roupas. Um dia, a a avó morreu, e as tias passaram a disputar a manta, todas a queriam, mas do que aos quadros, jóias e palácios deixados por ela. Felizmente, as tias conseguiram chegar a um acordo, e a manta passou a ficar cada mês na casa de uma delas. E os retalhos, à medida que iam se acabando, eram substituídos por outros retalhos, e novas antigas histórias foram sendo incorporadas à manta mais valiosa do mundo."